
O arquiteto Alberto Streb é uma das “mãos e mentes” envolvidas no projeto de restauro da Casa Hermann Muller. Sócio da OES Engenharia e Construções Ltda. e formado em arquitetura pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, Streb é especialista em intervenção e restauro em patrimônio histórico e cultural pela Universidade Cruzeiro do Sul
A relação do arquiteto com Americana começou quando foi o responsável pelo restauro da antiga ponte metálica sobre o Rio Piracicaba, conhecida como ponte da Ripasa. Também foi o responsável técnico pela obra de restauro do telhado do Casarão de Salto Grande.
Durante a execução dos trabalhos, Streb fez amizades e firmou seus laços com a cidade, principalmente com pessoas ligadas à área cultural. E foi com esse relacionamento bom com a Princesa Tecelã que surgiu o interesse em restaurar a Casa Hermann, um dos mais valiosos patrimônios da história cultural de americanense.
O termo de compromisso para elaboração do projeto de restauro foi assinado em 2019 pela OES Engenharia e Construções Ltda. e pela Prefeitura de Americana.
Em 2020 o projeto foi aprovado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo por meio do ProAc (Programa de Ação Cultural de São Paulo) e ficou apto para captação de recursos com empresas parceiras, que poderiam deduzir os valores de seu ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). No entanto, em 2021, o projeto foi alterado e autorizado a receber recursos diretos do Governo do Estado, com valor menor que o inicial. “Iríamos receber um terço a menos do que havíamos orçado, mas era a chance de colocar o projeto para andar de forma mais ágil. Renegociamos com todos os envolvidos, refizemos todos os custos e conseguimos ajustar as despesas para viabilizar o projeto”, contou Streb.
Essa modalidade é chamada ProAc Expresso Direto e o contrato para elaboração do projeto foi finalmente assinado em dezembro de 2021 com o valor total de R$ 250 mil.
Com o projeto em andamento, os engenheiros e arquitetos da OES Engenharia e Construções buscam agora a viabilização da primeira etapa da execução do restauro. “Preservar este imóvel é manter a história viva da origem Americana. É muito importante que todos colaborarem com a restauração para fazer deste local um agradável centro cultural e social para a cidade. Precisamos resgatar os valores que fizeram com que Americana se tornasse essa cidade tão importante no Estado”, afirmou.
“Neste importante imóvel temos o registro das técnicas construtivas deste o início do século XX, a importação de técnicas construtivas adaptadas às técnicas e materiais que existiam no Brasil na época”, explicou.
“A melhor maneira de preservar um Patrimônio Histórico Cultural é a sua restauração, manutenção e ocupação da sociedade para integrar na cultura de Americana. Por isso, para que o imóvel fique adequado ao uso público, além de estarmos fazendo o projeto de restauro, estamos fazendo a revitalização e modernização dos banheiros, área da piscina e o paisagismo”, completou.
OS DESAFIOS
Para Streb, que tem longa experiência com restauro, os maiores desafios no projeto da Casa Hermann estão relacionados à falta de manutenção do imóvel ao longo dos anos e nas dificuldades para fazer o levantamento arquitetônico planialtimétrico. “Existe muita dificuldade no trabalho de registrar as patologias existentes no imóvel desde a sua origem, passando por todas as ampliações. Os processos de tombamento municipal e estadual contam com plantas sem muitos detalhes de arquitetura e nós precisamos desse detalhamento para a execução do restauro”, explicou.
Segundo arquiteto, é preciso ter parâmetros técnicos para realizar qualquer intervenção e tomar as decisões durante a elaboração do projeto e execução do restauro. “A falta de manutenção acelerou a deterioração do imóvel, principalmente por conta das infiltrações de água de chuva”, acrescentou.
Por conta dessas infiltrações, o telhado tem recebido especial atenção da equipe que está elaborando o projeto de restauro. “Esse telhado é muito recortado porque a casa foi passando por ampliações ao longo do tempo. Ele tem 53 águas, numa área de aproximadamente 950 metros quadrados. Estamos fazendo o levantamento detalhado das estruturas de madeira, tesouras, terças, espigão, caibros e ripas”, explicou.
Todas as dificuldades e os detalhes do imóvel levaram a empresa a montar um verdadeiro escritório de trabalho dentro da Casa. “Mais do que levantar dados, estamos vivenciando a realidade da Casa. É um verdadeiro trabalho de imersão que vai nos garantir não somente um projeto detalhado, mas um rico conhecimento sobre a história e cultura local”, completou.
OS DETALHES DA CASA HERMANN MÜLLER
Endereço: Av. Carioba, nº 2.001 – Bairro Carioba – Americana-SP – Cep: 13472-717
Casa de Cultura Hermann Müller – criada através da Lei nº 3.313, de 14 de julho de 1999. Inaugurada em 2001.
Tombamento como patrimônio histórico pelo Governo do Estado de São Paulo: Resolução 21 de 09/05/2013, Processo 23.132/1984, Livro do Tombo Histórico: inscrição nº 400, p. 118, Publicação do Diário Oficial: Poder Executivo: 22/05/2013, p. 68 e 69
Carioba, em tupi guarani, significa pano branco
A construção da casa demorou seis anos, de 1903 a 1909
A primeira fase da Casa foi construída no estilo inglês composta da bay window, sem o pavimento superior.
Em 1910 é anexado o pavimento superior e construído o observatório, inicialmente de forma esférica envidraçada com visibilidade para cima e lateral de 360º. Em 1939 foi alterado para forma quadrada onde foi colocado um telhado na parte superior e janelas nas laterais, está alteração foi devido por consequências do início da Segunda Guerra Mundial, onde a casa passou a ter um estilo ítalo-germânico.
O imóvel tem 56 cômodos distribuídos em 5 pavimentos, incluindo a adega na parte mais inferior da casa com acesso externo
Entre os anos de 1950 e 1960 os arcos das portas e janelas foram retirados e o teto da sala de jantar foi rebaixado. Foram realizadas alterações no telhado e na área social (com a substituição do assoalho por pisos). O quintal também foi aterrado.